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Hannah Baker não é heroina!

Publicado: 28/04/2017 as 16:20

(Esse texto traz spoilers)

Durante algumas semanas, depois de ver “13 Reasons Why”, pesquisei muito sobre o assunto abordado: suicídio. Obviamente, essa não é a única pauta da série, mas é a que desencadeia todo o roteiro. Antes, minha opinião era sólida e concreta: Não vejam essa série. Hoje, construí uma visão totalmente relativa. Por quê?

Bom, eis o meu porquê.  

13 Reasons é uma areia movediça, na qual você precisa pisar com cautela e razão. Pior do que assumir um roteiro inicial estilo Malhação, exceto pelo fato de a protagonista estar morta, é o caráter vingativo que todas as 13 fitas abordam. Através das fitas que Hannah grava antes de morrer, ela se torna a protagonista na vida de todos os mencionados nos áudios. “Vamos deixar todas as pessoas que me fizeram mal, piores do que eu fiquei”. Romantizar o suicídio é um erro. Isso parece meio doentio, não?

O que os jovens, espectadores da série, não se inclinam a pensar é que TODO PROPÓSITO É CUMPRIDO, POIS PRECISA SER ASSIM POR CAUSA DO ROTEIRO. Partindo do pressuposto de que tudo o que Hannah diz é verdade, sendo que é o lado que conhecemos da história, a narrativa não deixa nenhum indício de subjetividade para podermos questionar a veracidade de todos os acontecimentos. Zach não jogou o bilhete fora. Percebe?

O bullying é um assunto realmente difícil de relacionar, justamente pela relatividade entre o paciente e a vítima. OS DOIS LADOS SÃO DOENTES, um por praticar e o outro por sofrer.  Porém, um reconhece a doença e o outro não. Com isso, o suicídio se torna uma opção para exterminar a dor agoniante da pessoa. Então, por mais que a intenção de Hannah não tenha sido esta, ela deixou um legado, um rastro de culpa e de dor para aqueles que foram os “responsáveis” pela morte dela.

Na verdade, a série encarrega um homem, Clay, a ser o precursor de todas essas informações. Então, ele se protagoniza, mesmo sendo uma narrativa inclusiva. Talvez mais um erro de roteiro.

Em contrapartida, ouvindo relatos de algumas pessoas que me procuraram para expor suas opiniões sobre a série, pude perceber que, em grande maioria, elas perceberam o ponto chave de tudo: Hannah Baker não é a heroína.

O cânone do herói é relatado, em geral, como alguém que se sente contemplado pela injustiça e se sacrifica por um bem coletivo. Geralmente, é com isso que o público se identifica. E, mesmo o anti-herói não foge dessa definição, como Macunaíma (ps.: sempre falarei dele aqui), mas, de modo geral, é motivado não por bondade, mas por interesses pessoais. A questão é que Hannah não fez as fitas para tentar melhorar o mundo ou por vaidade. Fez por não suportar mais, por fraqueza, num ato de prolongado desespero. Hannah pediu socorro após a morte.

Muitas vezes, aqueles que estão em situações de conflito não conseguem perceber uma solução para os problemas. Eles simplesmente se desesperam. No caso de Hannah, o fato de ela ter se culpado por problemas dos amigos, ou por pequenos fracassos dela mesma (excluindo o estupro, que foi algo horrível que aconteceu a ela), fez aquilo ficar agoniante dentro de sua cabeça. Então, em determinado momento, ela sucumbe ao buraco que se abriu a sua frente, depois de tentativas inúteis de criar uma ponte.

Então, quem é o herói?

Clay Jensen, atravessando uma jornada de herói para se congratular a esperança de toda a narrativa. Ele se transforma, e transforma o mundo ao seu redor. Hannah é apenas o arauto, dando um pontapé para resolver um problema que era seu, mas que poderia ser de muitas outras pessoas se aquilo continuasse. Ela é apenas uma menina frágil e fraca, sufocada com o meio tóxico a qual ela pertencia. Ali, naquelas fitas, Hannah deu esperança à Jessica, denunciando o estupro dela mesma e da amiga. Deu esperança aos pais, sedentos por justiça. Clay, com sua infinita compaixão, fez todo o possível para mostrar àquelas pessoas que elas eram, sim, erradas. Que o mundo onde eles viviam estava doente e precisava de cura.

Eu gostaria muito de abordar todos os assuntos que a série nos leva a perceber, mas é um tema tão profundo que se afogar não seria sorte. O que precisamos fixar é: vamos criar senso crítico e, quando falo de crítico, não é apenas o lado ruim, mas aquele que vai fazer você perceber que todas as coisas, por pior  ou melhor que sejam, tem um lado que prevalece. Basta você escolher o seu.

Aguardo ansiosamente os comentários.

Au revoir e até a próxima, leitor!

 

Escrito por: Karoline Maia