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5 Filmes melhores que os livros que os originaram

Publicado: 10/06/2014 as 9:48

O assunto é polêmico. Traduzir uma obra literária para a linguagem audiovisual é empreender uma aventura de altos riscos e diversas complicações. Quando bem executado, tem o poder de enriquecer a bagagem dos leitores e estimular aqueles que não leram a fazê-lo. Através da imagem, a história consegue mais alcance—mesmo que, infelizmente, esse alcance muitas vezes sacrifique a essência da obra original. Mas como transpor o conteúdo literário de forma adequada para o cinema, se nem Kubrick escapou da rejeição? Apesar do consenso de que o livro sempre é melhor do que o filme, eis aqui uma pequena lista de livros que acabaram originando filmes melhores do que eles.

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1 – Peixe Grande – Daniel Wallace

Peixe Grande é um livro minúsculo, singelo, sem grandes pretensões—e não é nem de longe tão fantástico quanto sua versão cinematográfica. Edward Bloom não é tão virtuoso, romântico ou carismático quanto o personagem recriado por Tim Burton no filme de 2003. Apesar do subtítulo original do livro, “Uma novela de proporções míticas”, tudo que se passa nas menos de 100 páginas não passam de referências plausíveis dos eventos extraordinários mostrados no filme. É entre uma aventura e outra, rememoradas pelo filho de Edward, que dezenas de elementos férteis são desperdiçados em seu potencial fantástico, gloriosamente resgatados, um ou outro, na maior—e infinitamente mais encantadora—epopeia de Bloom nos cinemas. A trilha sonora de Danny Elfman e a direção de arte típica da estética de Burton também valorizam a magia que, de tão simplória e rápida na versão original, quase se perde.

2 – O Jardim Secreto – Frances Hodgson Burnett

Frances Hodgson Burnett era uma bem sucedida autora de livros infantis no início do século XX, quando escreveu O Jardim Secreto. O livro, que conta a sensível história de uma família que se cura a partir de seus integrantes mais jovens, as crianças, é um belo resgate à inocência e ao contato com a natureza. O filme de 1993, dirigido por Agniezsca Holland, é predominantemente fiel ao livro, mas a escrita simples e plana de Burnett ganha uma nova aura ao som da belíssima trilha sonora e da fotografia espetacular. A mimada Mary Lennox, protagonista da trama, esbanja a melancolia que não é tão densa no livro, e todos os frames são montados de forma cuidadosa, guardando em cada imagem a poesia que não aparece na prosa de Burnett, mas é inerente à essência da história. Por se tratar de uma história para crianças, alguns detalhes foram alterados: os pais de Mary, mortos no livro por uma epidemia de cólera, têm o seu fim retratado de uma maneira mais sutil, falecendo num terremoto. A mãe de Colin, originalmente, não é gêmea da mãe de Mary. Tais mudanças, no entanto, não ofendem o todo; no geral, tornam-se detalhes mais bem aproveitados visualmente.

3 Amor Além da Vida Richard Matheson

Richard Matheson escreveu para o cinema e para a tv desde o começo da carreira, quando adaptou The Shrinking Man para a versão fílmica. Ele escreveu episódios para a célebre The Twilight Zone e é mundialmente famoso pelo livro Eu sou a Lenda, que também foi adaptado para o cinema. Talvez por isso mesmo Amor Além da Vida (What Dreams may come), publicado em 1978, funcione tão bem visualmente. Na história, Chris Nielsen morre num acidente e desperta para o mundo espiritual, onde um antigo conhecido o guia pelo mundo fantástico da Terra do Verão. Mas, apesar da morte, Chris sente necessidade de reencontrar a esposa, que acaba se matando e se perdendo no inferno. Diversos detalhes foram alterados no filme, como as profissões dos dois protagonistas—Ann, a esposa, não é uma pintora na versão original, por mais que essa pequena alteração tenha contribuído significativamente para os recursos visuais do filme, em que Chris anda por jardins de tinta e encontra a casa que ela pintara. O livro é narrado por Chris, um escritor de peças, e psicografado por uma mulher que consegue ouvir o seu relato. Mas, aí mesmo, encontra um problema: as descrições do mundo espiritual feitas por Matheson beiram o didatismo, perdendo a subjetividade e o poder da metáfora. Numa introdução feita pelo autor, ele lista uma bibliografia de mais de 70 livros que leu para pesquisar o pós-vida, aconselhando os leitores mais curiosos a lerem-nos também. Infelizmente, a obra acaba um pouco esvaziada do caráter literário, artístico, perdendo-se numa especificidade quase religiosa.

4 – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça – Washington Irving

O conto-novela de Washington Irving é quase o oposto desdenhoso do filme dirigido por Tim Burton de 1999. Ichabod Crane, Katrina Van Tassel e diversos outros personagens estão lá, mas suas personalidades, escolhas e realidades são completamente diferentes. Johnny Depp conseguiu imprimir ao seu Ichabod um pouco do caráter cômico e ridículo típico do personagem, mas foi necessário grande criatividade dos roteiristas para tornar os eventos de Sleepy Hollow realmente fantásticos, dignos do terror pelo qual eram conhecidos. O resultado foi um filme icônico, extremamente bem montado e visualmente estimulante, em que a ação não se limita à última cena (como no conto) e os personagens têm mais força. O Ichabod original é descrito como um galante acadêmico com grande prestígio na comunidade, avidamente interessado em assuntos como bruxaria e facilmente impressionável pela atmosfera sombria e peculiar de Sleepy Hollow. Não há investigação a fazer na cidade, assassinatos estranhos ou segredos de família. O Ichabod das telas tem uma backstory familiar frequentemente evocada, mas, no livro, é um personagem plano sobre o qual não se sabe nada da família ou do passado, que se apaixona por Katrina por causa do seu dinheiro, e que passa longos parágrafos descrevendo comida, real ou imaginária. O cavaleiro sem cabeça só vem a aparecer, de fato, nas últimas páginas, mas sua identidade é obviamente falsa; termina a história sem metade do que prometia, quase como a desventura de um personagem patético ou a sátira à mente impressionável da província. Não se trata sequer de terror, mas o potencial de Sleepy Hollow, é enorme: durante o conto, são mencionados uma árvore amaldiçoada, a lenda de um major Andre, morto em batalha, uma dama de branco que assombra o vale de Raven Rock, e a ponte encantada da qual o cavaleiro sem cabeça não podia passar, todos dispersos e sem continuidade. Foi aproveitando tanto potencial desperdiçado que Tim Burton deu nova vida ao conto de Irving, melhorando-o infinitamente.

5 – O Curioso Caso de Benjamin Button – F. Scott Fitzgerald

A única coisa em comum entre a pequena novela de Fitzgerald e o filme dirigido por David Fincher, de 2008, é a ideia de um homem que nasce velho e rejuvenesce com o tempo. Além disso, nada no filme estrelado por Brad Pitt é fiel ao livro, que mostra um Benjamin bem menos romântico e maduro, estereotipado a cada idade que enfrenta, acolhido sem a mesma afeição e tragicômico desde o começo. A personagem de Cate Blanchett, Daisy, nem sequer existe, e mais parece uma referência à Daisy célebre de Gatsby, também de Fitzgerald; em seu lugar, a única mulher da vida de Benjamin é Hildegard, que é atraída pela idade avançada do moço, apenas para enfrentar o seu repúdio e desinteresse à medida que envelhece e ele se torna mais jovem não apenas física, mas mentalmente. Diz-se que o conto nasceu de uma afirmação de Mark Twain, que reclamava da melhor parte da vida ser no começo e a pior, no fim. É bastante óbvio, no entanto, que Fitzgerald não concordava com isso, sendo o seu Benjamin um personagem tão infeliz e com uma vida cujo auge foi tão curto quanto o de uma pessoa normal. Ainda assim, a maneira seca e cômica como retrata o personagem não enternece nem envolve do mesmo modo que a versão dos cinemas faz. O drama de Benjamin, além de seu atrapalhado desencontro, é muito mais real sob as lentes de Fincher.

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Fonte: HomoLiteratus